Muito se fala a respeito das características de um bom funcionário e o que se deve observar no momento de uma contratação. Mas e quanto aos funcionários que já fazem parte da equipe? Você monitora o desempenho e o comportamento deles? Será que sua fundação possui os funcionários ideais para alcançar os resultados desejados?
Certos perfis ou comportamentos caracterizam o que chamamos de funcionários tóxicos. Em médio a longo prazo, eles podem contaminar quem trabalha à sua volta, comprometendo os resultados ou até mesmo criando uma alta rotatividade de pessoas, e inevitavelmente isso gera prejuízos.
É muito comum as fundações, como a maioria das empresas, ignorarem aqueles profissionais que entregam resultado, mas ultrapassam os limites éticos e comportamentais. Talvez eles nem façam por mal, apenas estão em cargos errados, não tem desafios condizentes com seu potencial ou apenas possuem uma visão destoante do resto da equipe.
Baseado em algumas conversas com a profissional de RH de onde trabalho e em mais de 350 horas de consultoria realizadas em fundações de apoio, resolvi listar algumas características desses profissionais que podem não estar fazendo bem para sua fundação e você nem está notando… Ou está, mas não tem ideia da dimensão que isso pode tomar.
Entre outros, estes são alguns dos perfis identificados:
Rebelde
- Não segue as legislações e normas estabelecidas pela fundação.
- Desorganizado: demora a dar informações, isto quando a encontra.
Em um ambiente extremamente burocrático, onde muitas vezes se lida com dinheiro público, tendo que prestar contas, é importantíssimo seguir as leis que regem as atividades da fundação.
Alguns dos projetos gerenciados podem durar anos, podem durar mais do que o tempo de casa de um funcionário. Todos os documentos, comprovantes de pagamentos, nota fiscal e etc. devem ser muito bem arquivados. Durante a execução do projeto, é necessário prestar contas para o Ministério Público, para a financiadora, para a instituição apoiada ou órgão competente. Multas milionárias, falta de credibilidade no mercado e perda crescente de projetos geridos são só o começo.
Funcionário desorganizado, que não segue a legislação ou as normas internas não deve ter lugar na sua equipe.
Reclamão
- Fala mal da fundação, dos colegas de trabalho e de tudo à sua volta.
- Fofoqueiro: não mantém o sigilo das informações e causa mal-estar na equipe ao apontar os erros dos outros.
- Pessimista: só tem pensamentos negativos e colocam defeito e dificuldade em tudo.
- Inflexíveis: geralmente não estão abertos às inovações e ficam presos aos processos.
Você já conheceu alguém que vive falando mal dos colegas de trabalho, do chefe, de onde trabalha, das atividades que faz, reclama de tudo?
Não devemos confundir o reclamão com pessoas que questionam e emitem opinião. Aqueles que aceitam tudo sem se posicionar, podem estar deixando de contribuir para alguma mudança
em benefício da equipe. Questionar é importante, mas apontando os pontos positivos e negativos, apresentando alternativas com espírito de cooperação, e não com pessimismo.
É muito ruim para a equipe trabalhar com alguém que vive reclamando, acha que nenhuma ideia vai dar certo e só tem pensamentos negativos. Geralmente, pessoas assim também não estão abertas às inovações, ficando muito presas aos processos, fazendo sempre as mesmas coisas e do mesmo jeito.
Já imaginou se em um destes momentos de reclamação a pessoa deixar escapar informações sigilosas da fundação ou causar um grande mal-estar com os coordenadores ou stakeholders?
Egoísta
- Sem empatia: descomprometido com a equipe, só faz a sua parte e não se dispõe a ajudar os outros.
- Olho no relógio: Se precisar dele nos últimos minutos do expediente, pode esquecer.
- Sr. Desculpa: não assume os erros e responsabilidades, sempre colocando a culpa no outro.
- Individualista: Não gosta de trabalhar em equipe e tem dificuldade de receber feedbacks.
Este perfil de funcionário não costuma ter empatia com os colegas, não compartilha o conhecimento ou as informações. Tendem a colocar a culpa no outro quando algo de errado acontece, tem dificuldade de receber feedbacks e não gostam de trabalhar em equipe.
De maneira geral, as fundações são compostas pelos setores de administração de projetos, compras, financeiro e prestação de contas. Todos eles geram demandas uns para os outros, dependem uns dos outros, sendo extremamente importante que cooperem entre si.
Sendo assim, pessoas descomprometidas com a equipe, que só fazem a sua obrigação sem se dispor a ajudar os outros, podem gerar um grande desconforto, demoras na execução das atividades ou até mesmo retrabalho. E tempo é algo muito valioso para nós.
Nervoso
- Estressado: Qualquer coisa o tira do sério.
- Mal-humorado: Contamina o humor da equipe.
- Arrogante: Se acha expert em tudo e oprime a opinião dos outros.
Já deu para perceber que nas fundações, além de lidar com processos, temos que lidar com pessoas, atendendo bem os coordenadores, tendo um bom relacionamento com os financiadores e com as instituições apoiadas.
Agora, imagina trabalhar ao lado de uma pessoa arrogante, que está sempre estressada e de mal com a vida.
Pessoas assim contaminam o humor de todos à sua volta, criando um ambiente pesado para o trabalho. Esta tensão pode, em algum momento, tirar o foco de alguma tarefa e provocar erros catastróficos. Sem falar na imagem ruim que isso pode passar para algum parceiro.
Se algum destes perfis te fez lembrar de alguém na sua fundação, é um mau sinal.
O ideal é que estes perfis sejam identificados no processo seletivo, para evitar que pessoas assim venham a compor o time.
A realidade é que poucas fundações possuem alguém especializado em gestão de pessoas e seriam capazes de fazer um processo seletivo eficiente.
E o que fazer depois que a lambança está feita?
O primeiro passo é ter consciência do problema. Faça um mapeamento comportamental da equipe e esteja disposto a ouvir cada colaborador. Identificados os problemas, ações precisam ser tomadas.
Analise com carinho aquelas pessoas que possuem boas entregas, mas não têm o comportamento adequado. Talvez ela mereça uma segunda chance e você consiga alguma melhora através de coaching, treinamentos e dinâmicas que estimulem a integração com o time. Não se esqueça que trabalhar o desenvolvimento da equipe é importante para evitar pessoas inseguras e frustradas dentro da fundação.
Porém, tenha em mente que é extremamente difícil e custoso mudar o comportamento de alguém. Procure a ajuda de um especialista e avalie se a fundação tem tempo e recurso para tal investimento.
Agora, para aquelas pessoas tóxicas, que estão contaminando a equipe e ainda não estão entregando os resultados esperados, não há muito o que fazer.
Como eu disse anteriormente, a pessoa pode até não fazer por mal. Talvez só esteja trabalhando no lugar errado e com as pessoas erradas. Avalie e faça um favor para ela e para sua fundação, dando a oportunidade dela trabalhar em outro lugar. Em outras palavras, mande embora.
Se preferir, como já dizia Chiclete com Banana, “Então diga que valeu, o nosso amor valeu demais.
Que pena, ficou pra trás”.
Não cruze os braços diante dessa situação. Você precisa tomar alguma atitude para que sua fundação tenha um ambiente mais saudável e produtivo. Quando assistimos o Homer Simpson na televisão, achamos graça e compartilhamos as célebres frases do personagens cheias de desculpas, reclamação e individualismo. Mas e se olhássemos para o lado? Que tipo de perfil estamos tendo? Ou melhor, que tipo de perfil somos? Sempre é tempo de melhorar.